A experiência de Ayahuasca já provou ser extraordinária.
Mudou positivamente as vidas de muitas pessoas. Curou vários tipos de depressão e de dependência.
A ayahuasca tem mostrado às pessoas a imensa beleza do cosmos e de nós próprios, através de visões e visualizações impressionantes e emocionais. Uma experiência capaz de fenômenos de tal magnitude precisa de ser valorizada e respeitada pelo que é.
A Ayahuasca, é uma bebida composta por duas plantas de origem amazônica, tem permeado o cenário mundial de pesquisas e estudos sobre plantas enteógenas.
O seu uso iniciou-se por tribos indígenas amazônicas em rituais de transes místicos, daí o termo enteogênica, e hoje é presente em inúmeras crenças religiosas do Brasil e do mundo.
O cipó Banisteriopsis caapi e a rubiácea Psychotria viridis, quando fervidos juntos durante horas, dão origem ao chá Ayahuasca, que modifica o estado natural de quem o ingere e altera sua consciência.
As substâncias psicoativas responsáveis pelo transe são o Dimetiltriptamina, o DMT (da Psychotria viridis), e a Harmina, Harmalina e Tetrahidroharmina (da Banisteriopsis caapi).
O modo de preparo se difere em cada rito que utiliza a bebida, de acordo com as tradições do grupo e as características do indivíduo participante. A descoberta dessa combinação enteógena, é considerada pelo meio acadêmico uma das realizações etnobotânicas mais significativas das culturas indígenas.
É também conhecida por inúmeros nomes, entre eles Yagé, Caapi, Nixi Honi Xuma, Oasca, Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Pindé, Dápa, Mihi, “O Vinho da Alma” ou “Pequena Morte”, e o mais utilizado, Ayahuasca, é de origem inca (quéchua), que significa “Liana – ou cipó – dos espíritos”.
Não se sabe ao certo quando se iniciou a utilização desta bebida em rituais indígenas, já que se têm indícios arqueológicos de que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2000 a.C. Entretanto, há diversos estudos que abordam o uso da Ayahuasca na região amazônica, o que nos permite ter um panorama de como se desenvolveu essa utilização.
Diz que após o massacre deste povo ocorrido com a invasão espanhola, grande parcela da população inca se refugiou nas selvas da Amazônia peruana. Com o orgulho ferido e com uma visão nostálgica da perfeição do império onde viviam antes da violência européia, o povo inca interioriza uma concepção do éden indígeno, o Império perfeito e harmônico que existia anteriormente, que passa a existir no coração e nas mentes desses índios.
O ritual místico de utilização da Ayahuasca aparece, sendo um mistério ainda como e quando, em comunidades permeadas por sentimentos como este, e o ritual é feito pelos indígenas no intuito de se ascender a esse mundo superior que se encontrava em seus corações. O significado de Ayahuasca, na origem inca, é cipó dos espíritos ou das almas, sendo o chá o “cipó” utilizado para asceses das almas a esse mundo perfeito, do êxtase, da transe.
Diversas são as tribos indígenas que praticam o ritual com o chá de caapi, e não se sabe ao certo como se deu a disseminação dessa cultura entre as distintas e logínquas comunidades aborígines.
Como exemplo temos os povos dos troncos linguísticos Pano, Arawak e Tukano; os Siona, da Colômbia, que figuram um exemplo de uso xamânico indígena da Ayahuasca; e os Kaxinawá, uma subetnia Pano, no Peru e na Amazônia brasileira, que enfatizam as experiências sensoriais do mundo – parte da cosmovisão do povo kaxinawá – por meio das alterações perceptuais induzidas pela ingestão do nixi pae. No ritual, nem sempre há atuação direta do xamã, mas é marcante a presença dos cantadores, cujos cantos orientam as visões dos participantes.
Outros povos da parte brasileira da Amazônia praticam o rito místico da bebida, como os Matako. É com o contato dos seringueiros, caboclos e mestiços – majoritariamente da região do Acre – com essas tribos que ocorre a transmissão do ritual para contextos urbanos, onde se desenvolvem religiões propriamente ditas. Não é no Peru, onde o uso xamânico é maciço, entretanto que estas religiões vão surgir, mas no Brasil. Estas, que ganham constantemente novos adeptos, são Santo Daime, A União do Vegetal e a Barquinha.
A ayahuasca e a lei
A trajetória legal da ayahuasca no Brasil é semelhante à de outras substâncias psicoativas utilizadas tradicionalmente em rituais religiosos em outros países. Nos Estados Unidos, membros da Native American Church já foram presos por utilizarem o cactus peyote, que contém mescalina, em seus rituais.
Atualmente o uso religioso do peyote é permitido pela lei norte-americana.
Em 1982, as comunidades daimistas, ainda restritas às profundezas da floresta amazônica, receberam a primeira visita de representantes do Estado brasileiro. A expedição era composta por policiais federais, militares, membros do Ministério Público e estudiosos. Mesmo com a conversão à doutrina do Santo Daime de alguns membros da própria comissão, como o psicólogo Paulo Roberto Souza, o antropólogo Fernando La Roque e o escritor Alex Polari de Alvarenga – posteriormente responsáveis pela expansão do Daime para o sudeste urbano –, em 1985 o daime foi proibido.
No ano seguinte, porém, foi montada uma nova comissão, dessa vez com a participação de especialistas em reabilitação de adictos, sociólogos e teólogos. Desta vez concluiu-se que a ayahuasca não causa dependência ou dano físico ou psíquico. Constatou-se também que as comunidades daimistas, como o Céu de Mapiá, apresentavam menores níveis de alcoolismo, delinquência, desnutrição e mortalidade infantil que a média regional, e também melhores padrões de moradia e emprego.
No ano de 1992, sob pressão dos proibicionistas, foi montada outra comissão, que no final das pesquisas também se posicionou pela liberação do uso ritualístico da ayahuasca.
Em 1998, o IBAMA regulamentou a extração, o armazenamento e o transporte da chacrona e do caape com fins religiosos e de pesquisa.
Fez-se também o cadastro das entidades usuárias do chá.